Smart cities precisam integrar soluções que previnam as consequências de desastres climáticos, com infraestrutura verde, hortas comunitárias, jardins de chuva e plantio em grande escala de árvores
Por Raphael Lafetá*
Todos temos sentido os efeitos das mudanças climáticas – e eles são ainda mais evidentes nos centros urbanos. Recentemente, o Congresso Nacional aprovou a Lei 14.904/2024, estabelecendo diretrizes para a criação de planos de adaptação das cidades a essas mudanças. A lei tem, entre os objetivos principais, minimizar a possibilidade de tragédias como enchentes e deslizamentos de terra em áreas habitadas, além de prevenir a escassez de água e danos à infraestrutura.
A urgência dessa legislação se intensificou após as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, deixando claro que precisamos de uma abordagem mais robusta e estratégica para lidar com eventos extremos. A aprovação dessa lei é um avanço significativo no fortalecimento do conceito e da presença de Cidades Inteligentes no Brasil.
As smart cities vão além da interconexão de pessoas e melhoria dos serviços públicos. Para serem realmente eficazes, precisam integrar soluções tecnológicas e sustentáveis que previnam as consequências de desastres naturais, garantam a resiliência da infraestrutura urbana e minimizem os impactos danosos do homem na natureza. Inovações voltadas à adaptação climática são fundamentais para que essas cidades sejam mais eficientes, seguras e preparadas para os desafios do futuro.
O planejamento urbano sustentável desempenha um papel crucial nesse processo. As cidades inteligentes do futuro devem equilibrar a ocupação humana com os recursos naturais, utilizando ferramentas como a implantação de infraestrutura verde, hortas comunitárias, jardins de chuva e o plantio em grande escala de árvores. Esses elementos não são apenas decorativos, mas sim partes essenciais da “engenharia verde” das cidades, funcionando como barreiras naturais contra enchentes e como reguladores da qualidade do ar.
Sensores que medem a qualidade do ar evitam danos à saúde pública
Por falar em qualidade do ar, áreas urbanas vulneráveis podem se beneficiar do uso de tecnologias avançadas para monitoramento ambiental. Sensores como o Halo Smart Sensor, que monitora em tempo real os níveis de poluição, incluindo compostos orgânicos voláteis (VOCs), são ferramentas essenciais para prevenir danos à saúde pública em áreas de alta densidade populacional e trânsito intenso. Essas tecnologias, quando integradas com infraestrutura verde, ajudam a mitigar os impactos das mudanças climáticas e garantem respostas rápidas a emergências ambientais.
Essas discussões ganharam ainda mais relevância no SDGs In Brazil 2024, o maior evento de sustentabilidade corporativa do Brasil, organizado pelo Pacto Global da ONU, no qual tive o prazer de mediar o painel COP30: o Brasil nos holofotes do mundo. Na oportunidade, falei sobre a importância do Brasil nos debates sobre políticas voltadas à proteção ambiental e às questões energéticas.
Smart cities podem ser integradas a projetos do MCMV
A boa notícia é que, no Brasil, já existem iniciativas que colocam em prática esses conceitos de soluções sustentáveis para as cidades. Um exemplo é o projeto Cidade Sete Sóis, desenvolvido pela MRV, uma empresa do grupo MRV&CO. O projeto, presente em fase de construção em cidades como São Paulo, Campinas, Salvador, Rio de Janeiro e Betim (MG), foi pensado com base em sete pilares de sustentabilidade e urbanismo planejado. Ele mostra como os conceitos e atributos das smart cities podem ser integrados a projetos de habitação acessíveis, inclusive por meio de programas de subsídio, como o Minha Casa, Minha Vida.
Os empreendimentos Cidade Sete Sóis são voltados para consumidores de baixa e média renda, e incorporam inovações que promovem sustentabilidade e qualidade de vida. Energia renovável, sistemas de gestão de resíduos eficientes e tecnologias de construção sustentável são alguns dos elementos adotados, sempre com foco na integração harmônica com o entorno e na promoção de uma vida comunitária próxima à natureza.
Sete Sóis traz para a realidade de muitos os avanços que são essenciais em termos de ocupação das cidades. A nova legislação é um passo importante para a adaptação dessas cidades às mudanças climáticas, mas sua implementação precisa ser acompanhada por soluções concretas que transformem o espaço urbano em ambientes inteligentes e resilientes; ambientes que não apenas conectarão pessoas, mas também serão projetados para mitigar os impactos de eventos extremos, para maior a segurança de seus habitantes. Essa transformação exige a colaboração entre governo, empresas e cidadãos, e é um caminho promissor para um urbanismo mais sustentável no Brasil.
*Raphael Lafetá é diretor de relações institucionais e sustentabilidade da MRV&CO
Fonte: Integridade esg
Cidades inteligentes trazem conceitos que transformam o urbanismo brasileiro